Cuidar de uma criança hiperativa pode ser exaustivo e solitário. Descubra estratégias práticas para preservar sua saúde mental, fortalecer sua resiliência e criar um ambiente familiar mais leve e feliz.
Cuidar de uma criança hiperativa é desafiador e exige dedicação, paciência e um amor incondicional que, muitas vezes, vai além das expectativas tradicionais da parentalidade. No entanto, o que passa despercebido é o grande impacto emocional que esse desafio traz para os pais. A convivência diária com a hiperatividade, especialmente quando vinculada ao TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), transforma profundamente a rotina familiar, exigindo muito mais energia e resiliência.
Cuidar da saúde mental dos pais de crianças hiperativas é tão importante quanto acompanhar o desenvolvimento do filho. Afinal, apenas estando emocionalmente bem, os pais conseguem oferecer o suporte que seus filhos realmente precisam.
Neste artigo, vamos explorar profundamente como preservar o bem-estar mental dos pais durante essa jornada desafiadora. Vamos abordar estratégias práticas, falar sobre o impacto emocional silencioso que poucos comentam e reforçar a importância do autocuidado.
Entendendo a Hiperatividade Infantil
A hiperatividade infantil é frequentemente mal interpretada como “energia demais” ou “falta de disciplina”. No entanto, ela envolve uma série de sintomas complexos e desafiadores, que vão muito além da simples agitação. Alguns dos principais sinais incluem:
• Agitação motora extrema: A criança tem dificuldades para se acalmar, sempre em movimento, mexendo as mãos, os pés ou até balançando-se enquanto está sentada.
• Dificuldade de concentração: A criança pode se distrair facilmente, mudando rapidamente de uma atividade para outra, sem conseguir focar por muito tempo em nenhuma delas.
• Impulsividade acentuada: Tomar decisões sem pensar nas consequências é comum, o que pode levar a comportamentos arriscados, interrupções frequentes e dificuldades em seguir regras.
• Inabilidade para aguardar turnos ou respeitar regras sociais: A criança tem dificuldade em esperar sua vez em jogos ou conversas, muitas vezes interrompendo os outros sem perceber a necessidade de paciência.
Esses comportamentos não são um reflexo de “má criação” ou “falta de disciplina”, mas sim características de um funcionamento cerebral distinto. Estudos de neurociência indicam que o cérebro das crianças com hiperatividade funciona de maneira diferente em comparação com as crianças típicas. O sistema nervoso dessas crianças pode ser mais sensível a estímulos externos, o que leva a uma hiperatividade mais intensa, além de desafios na regulação emocional e no controle dos impulsos.
É fundamental entender que a hiperatividade não é uma escolha ou um defeito de caráter. Ela está diretamente relacionada a questões biológicas, como o funcionamento dos neurotransmissores, que afetam a forma como as crianças processam informações e reagem aos estímulos do ambiente. Isso inclui a dificuldade em manter o foco e o controle emocional, que são necessários para o sucesso em atividades cotidianas, como a escola ou as interações sociais.
Segundo a American Psychiatric Association (APA), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) afeta aproximadamente 5% das crianças em todo o mundo. Em muitos casos, a hiperatividade é o sintoma mais visível e frequentemente o primeiro a ser identificado, muitas vezes sendo tratado de forma isolada. No entanto, é importante observar que o TDAH é um transtorno multifacetado que também envolve outros aspectos, como a dificuldade de concentração, a desorganização e os problemas de memória de trabalho.
Entender essas bases biológicas e os impactos dessa condição é crucial para reduzir o julgamento próprio dos pais e dos educadores. Isso também permite a adoção de práticas educacionais mais empáticas e realistas. Ao reconhecer que a criança não está agindo de forma intencional ou manipuladora, mas que ela está lidando com desafios neurológicos específicos, é possível criar um ambiente mais compreensivo e oferecer o apoio necessário para o seu desenvolvimento.
Com uma abordagem mais informada, é possível adotar estratégias que ajudem tanto a criança quanto os pais a lidar com os sintomas do TDAH de maneira mais eficaz, promovendo o bem-estar da criança sem sobrecarregar a saúde mental dos responsáveis.
O Impacto da Hiperatividade na Saúde Mental dos Pais
Estresse e Ansiedade Constantes
Cuidar de uma criança hiperativa coloca os pais em um estado de vigilância constante. As demandas são intensas, e até as atividades cotidianas, que normalmente seriam simples e até agradáveis, podem rapidamente se transformar em grandes desafios. Tarefas do dia a dia, como um passeio no mercado, uma ida ao parque ou uma visita a um parente, exigem uma atenção redobrada, já que os pais precisam estar sempre atentos para evitar comportamentos impulsivos, como corridas inesperadas, explosões emocionais ou desobediência. O nível de estresse aumenta, pois, muitas vezes, o comportamento da criança parece imprevisível, tornando qualquer saída ou compromisso mais cansativo.
Esse estado de alerta constante leva ao estresse crônico, que é uma resposta contínua do corpo a uma situação percebida como ameaçadora. Com o tempo, o estresse prolongado pode começar a afetar o bem-estar físico e emocional dos pais. Sintomas físicos relacionados ao estresse incluem:
• Dores de cabeça frequentes: A tensão acumulada pode gerar dores de cabeça recorrentes, muitas vezes associadas à pressão constante que os pais sentem para manter a criança sob controle.
• Problemas digestivos: O estresse crônico pode afetar o sistema digestivo, causando desde dor abdominal até distúrbios mais sérios, como síndrome do intestino irritável (SII) e refluxo gastroesofágico.
• Insônia: O desgaste mental e emocional pode resultar em dificuldades para dormir, com os pais acordando frequentemente à noite devido a preocupações ou passando horas rolando na cama tentando encontrar uma solução para os problemas diários.
• Irritabilidade: A sobrecarga emocional pode levar os pais a reagirem de maneira mais explosiva ou impaciente, até mesmo em situações que normalmente seriam triviais, como pequenas tarefas domésticas ou interações com outras pessoas.
Além disso, a ansiedade em relação ao futuro da criança adiciona ainda mais tensão à rotina já desgastante. Os pais se preocupam constantemente com aspectos do desenvolvimento de seus filhos, como o desempenho escolar, as habilidades sociais e a adaptação às normas e exigências da vida adulta. Questões como a escolha da escola, o apoio que a criança receberá em um ambiente educacional tradicional e até mesmo como ela se relacionará com os colegas, geram uma constante sensação de incerteza e preocupação. O medo de que a criança não consiga acompanhar o ritmo da sociedade, ou que enfrente dificuldades no futuro devido à sua condição, também é uma fonte de estresse adicional.
Esse ciclo de preocupações contínuas pode fazer com que os pais se sintam sobrecarregados, sem tempo para se cuidar ou para relaxar, o que prejudica ainda mais sua saúde mental e emocional. A ansiedade em relação ao futuro pode criar uma sensação de impotência, pois muitas vezes os pais sentem que estão fazendo o máximo possível, mas, ainda assim, o cenário parece fora de controle.
A pressão para garantir que a criança tenha uma vida bem-sucedida e equilibrada pode ser avassaladora, principalmente se os pais não sentem que têm o apoio necessário para lidar com a situação. Essa sobrecarga de responsabilidades pode fazer com que os pais se sintam sozinhos, o que intensifica ainda mais o estresse e a ansiedade.
Culpa e Autojulgamento
“Será que estou fazendo tudo errado?” é uma pergunta comum entre pais de crianças hiperativas.
O sentimento de culpa aparece quando os pais:
- Se sentem irritados ou impacientes
- Perdem a calma
- Precisam impor limites mais firmes
O autojulgamento severo pode evoluir para estados depressivos, especialmente se o apoio emocional é escasso.
Isolamento Social
Muitos pais relatam se afastar de amigos e familiares porque:
- Sentem vergonha dos comportamentos impulsivos dos filhos
- Cansam-se de ouvir críticas ou “sugestões não solicitadas”
- Não encontram compreensão no ambiente social
Esse isolamento gera solidão e pode reduzir ainda mais a capacidade de enfrentar os desafios cotidianos.
Como Cuidar da Saúde Mental Durante a Criação de uma Criança Hiperativa
1. Aceitação: Um Alicerce Emocional
Aceitar a condição do filho é um dos primeiros passos para aliviar o peso emocional.
Aceitar não significa ser conivente com comportamentos prejudiciais, mas sim reconhecer as dificuldades reais e se comprometer com um manejo respeitoso e consistente.
Prática sugerida:
Escreva um pequeno manifesto pessoal reforçando o seu compromisso com o amor incondicional e a busca por evolução constante, sem culpa.
2. Informação é Poder
Quanto mais você entende sobre hiperatividade e TDAH, mais ferramentas terá para agir com sabedoria.
Fontes confiáveis para estudo:
- Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA)
- Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
- Livros como “Mentes Inquietas” de Ana Beatriz Barbosa Silva
Lembre-se: Informação baseada em evidências é o seu melhor aliado.
3. Rede de Apoio: Não Enfrente Sozinho
Ter com quem contar faz toda diferença. Além de familiares e amigos, buscar suporte em:
- Grupos presenciais ou online de pais de crianças hiperativas
- Psicólogos especializados
- Terapeutas ocupacionais
Permite dividir experiências e renovar as forças emocionais.
Dica prática:
Se possível, participe de encontros semanais ou mensais para manter-se motivado e conectado.
4. Autocuidado: Priorize Seu Bem-Estar Físico e Mental
Atividades fundamentais para autocuidado incluem:
- Exercício físico regular (30 minutos, 3x por semana)
- Hobbies como jardinagem, música ou pintura
- Rotinas de sono reparadoras
- Alimentação balanceada
Lembre-se: cuidar de si é cuidar da sua capacidade de cuidar.
5. Técnicas de Relaxamento Para Reduzir o Estresse
Praticar relaxamento é um investimento a longo prazo.
Sugestões práticas:
- Meditação de 10 minutos guiada (há muitos aplicativos gratuitos)
- Técnica 4-7-8 de respiração (4 segundos inspirando, 7 segundos segurando, 8 segundos expirando)
- Exercícios de alongamento antes de dormir
Esses momentos de pausa restauram sua energia emocional e física.
6. Terapia: Espaço Seguro Para Você
Pais também precisam de espaço para falar de suas angústias e sonhos.
Buscar terapia pode te ajudar a:
- Diminuir a sensação de sobrecarga
- Aprender estratégias de enfrentamento
- Construir uma parentalidade mais consciente
Se possível, procure psicólogos com experiência em parentalidade neurodivergente.
7. Estabelecimento de Limites Claros
Defina seus próprios limites e comunique-os claramente para a família, amigos e até mesmo na escola do seu filho.
Exemplos:
- Limitar o número de compromissos sociais para não sobrecarregar
- Reservar horários específicos para descanso
- Definir pausas durante o dia
Respeitar seus limites é uma forma de proteger sua saúde mental.
8. Resgatar a Alegria no Cotidiano
Mesmo em dias difíceis, é possível encontrar pequenos momentos de alegria.
Sugestões de pequenos prazeres:
- Tomar um café ouvindo sua música favorita
- Assistir a um filme que te inspire
- Fazer uma caminhada ao ar livre
Reconectar-se com o prazer simples da vida ajuda a manter a esperança renovada.
Novos Desafios: Como Lidar com o Julgamento Externo
O julgamento de outras pessoas pode ser cruel e injusto. Muitos pais relatam ouvir frases como:
- “Essa criança precisa de limites!”
- “Na minha época, isso não existia!”
- “É falta de educação!”
Esses comentários aumentam a culpa e o estresse.
Como lidar:
- Lembre-se de que apenas você conhece seu filho profundamente
- Responda com firmeza ou ignore comentários destrutivos
- Escolha cuidadosamente com quem compartilhar suas dificuldades
Você não deve explicações para quem não está disposto a entender.
O Impacto nos Irmãos: Um Tema Pouco Falado
Se você tem mais de um filho, é importante lembrar que a hiperatividade também impacta os irmãos.
Possíveis sentimentos nos irmãos:
- Ciúmes
- Ressentimento
- Sentimento de invisibilidade
Como agir:
- Reserve momentos individuais para cada filho
- Converse abertamente sobre a situação
- Incentive a construção de uma relação de parceria entre irmãos
Essa atitude fortalece a família como um todo.
A Importância de Uma Rotina Bem Estabelecida
Crianças hiperativas se beneficiam de uma rotina clara e previsível — e os pais também!
Vantagens de uma rotina para a família:
- Reduz a ansiedade
- Aumenta a sensação de segurança
- Facilita a organização do dia a dia
Sugestão:
Crie quadros visuais de tarefas ou use agendas digitais para ajudar toda a família a acompanhar as atividades.
Cuidar de Você Também é Amar Seu Filho
Criar uma criança hiperativa é desafiador, mas também profundamente transformador. Você é constantemente convidado a ser mais empático, mais resiliente e mais consciente.
Mas nunca se esqueça:
Para cuidar do outro, você precisa estar bem.
Investir no seu bem-estar é um ato de amor e responsabilidade — por você, pelo seu filho e por toda a sua família.
Lembre-se:
- Aceite suas limitações
- Busque apoio
- Cultive pequenos momentos de alegria
- Cuide da sua saúde física e mental com o mesmo carinho com que cuida do seu filho
Você é capaz. E merece se sentir bem enquanto enfrenta essa jornada.
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